jueves, 4 de marzo de 2010

Glauco Mattoso, Soneto vicioso (500)

#500 VICIOSO [2002]  
Poema lembra amor, que lembra carta, 
que lembra longe, e longe lembra mar, 
que lembra sal, e sal lembra dosar, 
que lembra mão, e mão alguém que parta.  

Partir lembra fatia e mesa farta; 
fartura lembra sobra, e sobra dar; 
dar lembra Deus, e Deus lembra adiar, 
que lembra carnaval, que lembra quarta.  

A quarta lembra três, que lembra fé; 
fé lembra renascer, que lembra gema, 
a gema lembra bolo, e este o café.  

Café lembra Brasil, que lembra um lema: 
progresso lembra andar, que lembra pé, 
e pé recorda alguém que faz poema.
NOTA 2: Conforme comentário no sítio pessoal de GM, o soneto é um dos mais perfeitos exemplos
daquilo que o autor classifica como "barrockismo", ou seja, o malabarismo formal a serviço dos paradoxos (contra)culturais,
conciliando o perfil psicológico do poeta podólatra com a brasilidade contrastiva e pluralista.
O círculo vicioso, no qual o poema desencadeia um eterno retorno a si mesmo, pode representar tanto o vício fetichista
do autor quanto os repisados chavões cívicos e sociológicos de sua nacionalidade.

Glauco Mattoso va a ser una presencia inevitable en este blog.
No sólo porque bastaría su obra para hacer un blog monográfico,
sino porque es uno de los mayores y más prolíficos sonetistas.
En próximos-lamentablemente no sistemáticos-posteos,
nos dedicaremos a múltiples aspectos de Glauco: su predilección
por rimas agudas y extrañas-como en los sonetos burlescos de Gregorio de Matos-
su acentuación , su teoría sobre el soneto, expuesta en Geléia de rococó,
y en los mismos sonetos. Sobre dichos aspectos-
para decirlo glaucosianamente- haremos hincapié.

2 comentarios: